quarta-feira, 6 de outubro de 2010

'Falta de água ameaça o mundo'


Uma organização não-governamental da Grã-Bretanha está advertindo que duas em cada três pessoas em todo o mundo correm o risco de ficar sem água até 2025. A Tearfund está publicando nesta quinta-feira, Dia Mundial da Água, um relatório em que apresenta maiores detalhes sobre o problema da escassez de água nos países em desenvolvimento. Segundo a ONG, o consumo mundial de água cresceu duas vezes mais rápido do que a população mundial no último século - e os países mais pobres devem sofrer com isso, nos próximos anos. Ainda de acordo com o relatório da Tearfund, a maioria das pessoas sem água vão ser forçadas a deixar seus lares, provocando novas ondas de imigração.

domingo, 5 de setembro de 2010

Falta d'água ainda afeta 750 mil em São Paulo.


SÃO PAULO - Cerca de 750 mil pessoas continuam sem água na capital paulista, por conta do rompimento de um adutora da Sabesp, a companhia de saneamento básico do estado. A adutora, de um metro e meio de diâmetro, fica no Brooklin, na esquina das avenidas Chucri Zaidan e Roque Petroni Junior. Ao tentar fazer o conserto, a Sabesp descobriu que havia uma infiltração do Córrego do Cordeiro. O trabalho agora é tentar vedar a passagem, para que a água do córrego não se misture à água tratada e destinada ao consumo.

Estão sem água bairros como Morumbi, Butantã, Vila Sonia, Campo Belo, Americanópolis e Interlagos, além de consumidores dos municípios vizinhos de Embu, Cotia e Taboão da Serra. Na noite desta terça, bairros como Vila Sonia e Pirajussara receberam água provisóriamente. A Sabesp promete retomar nesta terça o abastecimento no Morumbi, bairro nobre da cidade.

De acordo com a Sabesp, todo o restante da região afetada será abastecido de forma parcial até que a adutora esteja em pleno funcionamento.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Falta de água será problema mundial para o século XXI.


Desperdício, descaso e contaminação podem levar à escassez da água. Reavaliar nossas próprias ações podem ajudar em muito.

Desde o surgimento da vida na Terra, a água é o elemento mais importante para a sobrevivência de todos os seres vivos. Sem ela, o planeta seria desabitado. Mesmo assim, a humanidade tem desperdiçado este recurso. Dados da ONU de 2006 revelam que até 2050 mais de 45% da população mundial não terá acesso à água potável.

Uma das teorias para o surgimento da água no planeta foi quando a Terra, até então uma bola incandescente, liberou gases de seu interior. Alguns desses gases eram compostos de amônia, hidrogênio, metano e o vapor d’água. “A água foi liberada através do vulcanismo há bilhões de anos atrás quando o planeta se resfriou”, explicou Waverli Neuberger, doutora em Ciências Biológicas e coordenadora da Agência Ambiental da Universidade

Metodista de São Paulo. A Terra é composta de 70% de água. A partir deste número, apenas 2,493% são de água doce. “Temos pouca água para o nosso consumo nos rios e lagos, sendo que a maior parte está nas geleiras e aqüíferos (água subterrânea)”, disse Waverli. Segundo ela, países árabes têm levado icebergs içados de navio para suprir a escassez de água em seus territórios, causando um grave impacto ambiental.

O mau uso da água tem causado preocupação em alguns países (em sua maioria europeus) e vários estudos tem sido realizados para tentar sanar o problema. “A revolução industrial não aconteceria sem a água. O ser humano não consegue ver que todos os itens industrializados precisam de água para serem produzidos, inclusive dinheiro”, afirmou o jornalista Roberto Haushahn, que teve a água como tema de seu trabalho de conclusão de curso.

Para fabricar cada quilo de aço são necessários 600 litros de água. Um litro de cerveja precisa de três a quatro litros. “A maior produtora de cerveja do Brasil gasta por ano 30 bilhões de água. Para se fazer uma folha de papel sulfite se gasta 380 litros”, disse Haushahn. “Se todas as pessoas do mundo consumissem como os americanos, seriam necessários cinco planetas Terra”, afirmou.

Previsões afirmam que nos próximos anos a guerra não será mais pelo petróleo e sim devido à escassez dos recursos hídricos. O Brasil é o país mais rico em água disponível para o consumo. Possuí 13,7 % de toda a água potável no mundo. “Se hoje nós temos guerra por causa de petróleo, como será quando a água se tornar escassa? Seremos, no mínimo, alvo”, disse Roberto Haushahn.

Águas subterrâneas poderiam ser uma alternativa para suprir as necessidades futuras. Mas não significa que os problemas acabarão. Um dos maiores aqüíferos do Brasil está no Sul e já abastece cidades próximas. “O Aqüífero Guarani que está no Sul do Brasil é imenso, mas há dados de que já esteja contaminado”, apontou Waverli. Além da contaminação, cidades que estão sob estas águas subterrâneas podem afundar com o uso indiscriminado. Um exemplo é a Cidade do México (MÉXICO), que enfrenta muitos problemas com a drenagem de água.



ÁGUA E SAÚDE
Da mesma forma que a Terra, o corpo humano é composto em média de 70% de água. A quantidade recomendada para o consumo diário varia de pessoa para pessoa. “A ingestão de água deve ser de 30 milímetros por quilo. Uma pessoa de 70 quilos deve ingerir 2,1 litros de água, por exemplo”, explicou o doutor João Marcos Rezende Mendes, médico cirurgião atuante da rede pública de saúde de São Paulo (SP). Além de consumida ao beber, a água está misturada aos alimentos como frutas, carnes, verduras, sopas, etc.

Atitudes simples do dia-a-dia ajudam a evitar o desperdício de água. Ao escovar os dentes ou lavar a louça evite deixar a torneira aberta o tempo todo, utilizando-a apenas quando necessário. Não se deve tomar banhos muito longos e recomenda- se fechar o chuveiro ao se ensaboar. Segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) 15 minutos de banho com o registro aberto consomem 135 litros de água. A empresa também aconselha a limpar a calçada com a vassoura e não com mangueiras, que consomem 279 litros em 15 minutos de uso. Para os motoristas, lavar seus carros uma vez por mês utilizando um balde e um pano são medidas que podem minimizar o desperdício.



Osmar Pereira

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

'Falta de água ameaça o mundo'

Uma organização não-governamental da Grã-Bretanha está advertindo que duas em cada três pessoas em todo o mundo correm o risco de ficar sem água até 2025.

A Tearfund está publicando nesta quinta-feira, Dia Mundial da Água, um relatório em que apresenta maiores detalhes sobre o problema da escassez de água nos países em desenvolvimento.

Segundo a ONG, o consumo mundial de água cresceu duas vezes mais rápido do que a população mundial no último século - e os países mais pobres devem sofrer com isso, nos próximos anos.

Ainda de acordo com o relatório da Tearfund, a maioria das pessoas sem água vão ser forçadas a deixar seus lares, provocando novas ondas de imigração.

Alimentos

Um dos piores efeitos da falta de água será o aumento do preço dos alimentos.

Em 2025, a Tearfund acredita que o volume de água necessário para produzir comida deve aumentar em 50%, devido ao crescimento populacional e à demanda por melhor qualidade de vida.

Como resultado da falta de água, a produção mundial de alimentos ameaça diminuir em 10%.

Em média, 70% da água mundial é usada na agricultura, mas na Ásia essa proporção cresce para mais de 90%.

Num mundo com cada vez menos água disponível, os países mais pobres vão ter que escolher se usam a água para irrigação, ou para uso doméstico e industrial.

"Para o 1,3 bilhão de pessoas que vive com US$ 1 por dia, o aumento do preço dos alimentos resultado da falta de água pode ser fatal", diz o relatório da Tearfund.

Gerenciamento

A ONG afirma que uma série de fatores colaboram com a crise que se avizinha, entre eles o fracasso dos países em desenvolvimento em regular, gerenciar e investir em seus recursos hídricos.

Quando esses problemas se juntam ao crescimento da população, o quadro fica ainda mais grave.

A população da China, por exemplo, deve crescer de 1,2 bilhão hoje para 1,5 bilhão em 2030, enquanto a demanda por água deve crescer 66% no mesmo período.

Na Índia, para resolver o problema da água a curto prazo, a Tearfund identifica o uso não-sustentável da água de lençois freáticos. Nova Delhi, por exemplo, deve esgotar suas reservas dentro de 15 anos.

Outro fator que aumenta a preocupação com a falta de água nos próximos anos é o aquecimento global - alguns cientistas prevêem um aumento na ocorrência de secas e o surgimento de mais desertos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Desmatamento e polítcas ineficazes são agravantes


A seca no sertão nordestino, está entre as questões mais graves do Brasil. Há séculos os governos têm tentado resolvê-la, sem sucesso.

As políticas de combate à seca no Nordeste remontam à época do
Império. D. Pedro 2º determinou a construção de açudes, entre outras ações, para diminuir os efeitos da estiagem, entre os anos 1877 e 1879.

O próprio imperador declarou: "Não restará uma única jóia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome".

Em 1951, um grupo de estudiosos determinou os limites da região atingida por estiagens periódicas, que passou a ser chamada Polígono das Secas. Veja o mapa com as áreas atingidas pela seca, na época:

Reprodução/IBGE
O Polígono das Secas

A área abrangia os quase todos os estados do
Nordeste, menos o Maranhão, além do norte de Minas Gerais.

Causas da seca

Mas o Polígono das Secas aumentou de tamanho. O Maranhão, que estava "fora" da área de ocorrência de secas longas, vem enfrentando o problema nos últimos 25 anos.

Nas regiões atingidas, é comum a estiagem se prolongar por dois ou três anos. Isso gera uma situação de calamidade para milhões de sertanejos.

A ampliação da área da seca está relacionada à forma de ocupação humana nessa região, desde o século 16. Trata-se do uso predatório da terra, tirando dela o máximo possível em produtividade sem preocupação com o esgotamento.

O principal fator foi desmatamento excessivo que deu fim à vegetação em torno das nascentes dos rios. Isso mesmo: sem as árvores, secam o rio e a fonte de onde vem a água.

Sem a proteção do verde, o solo frágil e arenoso não resiste e a região torna-se árida. Com isso, o clima muda: há menos chuvas. E o lugar é ocupado pela caatinga, ou se transforma em deserto.

Indústria da seca

O primeiro órgão de combate à seca foi criado em 1909, chamava-se Inspetoria de Obras Contra as secas (IOCS). Em 1919 tornou-se a Inspetoria Federal de Obras Contra a Secas (IFCOS). Em 1945 ganhou novo nome: Departamento Nacional de Obras Contra a Secas (DNOCS).

Todos esses órgãos procuram definir metas e solucionar o problema com obras para armazenar água e suprir a população, a agricultura e a pecuária.

Mas tem sido insuficiente, como se vê pelo aumento da área atingida. Além do desmatamento, a seca do Nordeste está ligada à falta de políticas que realmente funcionem em benefício da população.

Durante a estiagem, o governo federal socorre os estados atingidos com envio de dinheiro para ser aplicado nessas áreas, cestas básicas para a população, perdão total ou parcial das dívidas de empréstimos tomados por empresários e fazendeiros. Estudiosos declaram que existe uma "indústria da seca", da qual alguns se beneficiariam de forma política e financeira.

Água limpa e sem sal no nordeste do Brasil





Milhares de pessoas do semi-árido nordeste do Brasil saciam sua sede graças a uma tecnologia pouco usada na América Latina: as membranas de osmose inversa, que permitem dessalinizar e limpar a água. Em mais dois anos, poderão ser produzidas localmente. As membranas são uma espécie de pele sintética muito fina, feita com diferentes materiais, geralmente polímeros de plástico. O processo é conhecido como osmose inversa porque as membranas (que são semipermeáveis) deixam passar apenas a água, retendo as impurezas."As membranas são eficientes para melhorar a qualidade da água em grandes cidades, abastecidas por mananciais que recebem um coquetel de substâncias contaminantes", disse ao Terramérica Renato Ferreira, gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. "O sistema convencional de tratamento da água não elimina metais pesados nem agrotóxicos, mas as membranas sim", explicou. No momento, as membranas são usadas para dessalinizar águas subterrâneas que abastecem pequenas comunidades do interior semi-árido do nordeste brasileiro.

Nessa região, vários órgãos governamentais instalaram cerca de dois mil equipamentos de dessalinização na década passada, mas a maioria está desativada ou operando precariamente, por causa de dimensões inadequadas e falta de capacitação de seus operadores, disse Ferreira. O Programa Água Doce, iniciado em 2004 sob sua coordenação, tem como primeira meta recuperar os equipamentos e garantir sua manutenção, envolvendo as comunidades em sua gestão e formando técnicos. Para isso, serão criados grupos executivos em cada um dos nove Estados contemplados, com a participação de prefeituras, autoridades de diversos setores e organizações não-governamentais. Desse modo, serão obtidos diagnósticos dos equipamentos a serem recuperados e as novas necessidades, articulando a ação de todos os interessados, para evitar as falhas anteriores.

No Nordeste, onde a água é dramaticamente escassa, por causa das freqüentes secas, a subterrânea é uma alternativa, mas, em geral, muito salobra, devido ao subsolo rochoso. A água da grande maioria dos poços tem cerca de três mil partes por milhão de sal, em média, o triplo do adequado ao consumo humano, segundo a Organização Mundial da Saúde, destacou Ferreira. Em toda a região semi-árida existem cerca de cem mil poços perfurados, mas 70% já estão secos ou têm água muita salgada. Sobram cerca de 30 mil aproveitáveis que poderiam produzir uma média de quatro mil litros diários de água dessalinizada cada um. Teoricamente, o total seria suficiente para abastecer os 23 milhões de habitantes locais.

Dimensionar bem cada equipamento de dessalinização é indispensável, de acordo com a quantidade e a qualidade da água de cada poço. Alguns contêm muito ferro e necessitam de um tratamento químico prévio para não danificar as membranas. Outros, com mais cálcio ou magnésio, exigem diferentes pressões para filtragem e equipamentos com uma quantidade específica de membranas, que pode variar de três a nove, exemplificou Ferreira. Um equipamento dessalinizador simples, de três membranas, custa cerca de US$ 7 mil. "Não é muito, considerando que abastece aproximadamente 800 pessoas", disse o especialista.

As membranas usadas na dessalinização são importadas, mas pesquisadores das universidades federais de Campina Grande (UFCG) e do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolvem modelos para variadas finalidades, buscando independência tecnológica e redução de custos. "Dentro de dois anos o Laboratório de Referência Nacional em Dessalinização da UFCG terá uma membrana capaz de substituir as importadas, mas até ser produzida pela indústria nacional levará muitos anos", disse ao Terramérica Kepler Borges França, coordenador do Laboratório, que difunde essa tecnologia no Nordeste. O Laboratório usa cerâmica como material para desenvolver suas membranas; as importadas são de polímeros.

Pelo Programa Água Doce, durante o processo de dessalinização, apenas metade da água sai limpa. A outra metade fica com o dobro de concentração de sal e inicialmente era jogada fora, contaminando o solo. Por isso o Centro do Semi-Árido, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolveu um sistema em que parte dessa água salgada serve para o cultivo do peixe tilápia rosa (Oreochromis sp). O restante é usado para irrigar plantações de erva-sal, que absorve o sal do solo e é bom alimento para cabras e aves.

Além da dessalinização, as membranas têm múltiplas aplicações. Uma, obtida pela Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ, é a separação de aromas, já conseguida em frutas tropicais e no café, fato que melhorará o sabor de sucos e do café solúvel, ampliando a liderança brasileira nesses produtos. "As membranas permitem recuperar quase totalmente os aromas, que, por exemplo, na laranja incluem mais de 200 componentes", disse ao Terramérica Cristiano Borges, professor do curso de pós-graduação.

Os aromas são separados por "pervaporação" (evaporação seletiva dos componentes), usando membranas, explicou Lourdes Cabral, do Centro de Agroindústria de Alimentos da Embrapa, que participou do projeto referente ao café. Obter a essência natural é vital para a indústria do café solúvel, que os consumidores brasileiros rejeitam por perder o aroma e o sabor do grão.

Também há membranas usadas na produção de álcool por fermentação, com grande redução de custos, bem como outras que são utilizadas na indústria petrolífera, para filtrar substâncias como os sulfatos da água marinha, que penetra nos poços de petróleo. A presença de sulfatos pode dificultar ou bloquear a extração.

Captação de água: nordeste brasileiro adapta experiência chinesa


A falta d´água como impedimento para o desenvolvimento rural e de boas condições de vida dos moradores da região semi-árida do noroeste da China está sendo enfrentada através do sistema 1+ 2+1, que capta e armazena a água da chuva em cisternas para abastecer a população em períodos de seca. A região, pobre e ecologicamente frágil, tem algumas semelhanças com o nordeste brasileiro, que está adaptando o sistema, com sucesso, nos municípios de Crateús, no Estado do Ceará, e Cajazeiras, na Paraíba. Os custos acessíveis, a capacidade de produzir resultados imediatos e o nível tecnológico apropriado para uso em grande escala, elementos prioritários também da agricultura familiar nordestina, são características do método chinês. A captação de água da chuva no estado de Gansu (noroeste da China), superando as restrições impostas pela escassez de água que outros modelos não conseguiram, é uma referência. "Os maiores desafios são o financiamento para construção massiva de cisternas e a conscientização da comunidade sobre a viabilidade do processo", afirma João Gnadlinger, técnico do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), de Juazeiro da Bahia, que passou alguns meses na China visitando a experiência. Ele explica que o programa "1+2+1" é formado por três partes: uma área de captação (100 metros quadrados), duas cisternas de armazenamento d´água (uma para água potável e outra para irrigação) e uma área de terra a ser irrigada (com produção de culturas comercializáveis). O governo chinês dá o cimento para construção de tanques e as famílias contribuem com a areia e a mão-de-obra. A disseminação em larga escala começou em 1995, quando foi priorizado o abastecimento de água potável. Hoje, o programa visa principalmente a irrigação em escala familiar. Nas duas etapas, houve campanhas de conscientização da comunidade. O "1+2+1" resultou no aumento significativo das colheitas de grãos (milho e trigo), frutas (maçã, pêra e pêssego) e da produção de hortaliças em estufa. Foram construídas mais de 2 milhões de cisternas (73,1 milhões de m³ de água), que mataram a sede de 1,3 milhão de pessoas e 1,1 milhão de animais. Mais de 1 milhão de pessoas saíram do estado de pobreza, o que levou outros estados a adotar sistemas similares. O Programa para o Desenvolvimento do Oeste da China prevê, ainda, a construção de terraços em encostas, com 2,5 milhões de cisternas e irrigação de 400 mil hectares. No Brasil, o sistema recebeu o nome de "2+1": dois tipos de água (para uso humano e para a produção) e a terra, e é defendido pelas pastorais das igrejas e por ONGs que há anos trabalham no semi-árido do Nordeste, mas reproduzem os velhos esquemas mentais e políticos de dominação. Para divulgar e implementar essa proposta, estão preparando uma grande campanha de esclarecimento e conscientização em nível nacional. "Afinal, a transposição do rio São Francisco significa solução ou mais um problema? Paliativos como esse não dão sustentabilidade ao Nordeste. Logo, sua implantação, num prazo de mais de 10 anos, vem novamente favorecer o agronegócio, os fins privados, fazendo aumentar o abismo entre ricos e pobres", defende o coordenador da Comissão Pastoral da Terra na Bahia, Ruben Siqueira. Para ele, o programa "2+1" é uma alternativa viável à transposição porque não reproduz o modelo das grandes obras do governo, mas será uma ação economicamente viável e de resultado em curto prazo, que cada família desenvolve com o apoio financeiro do governo. "Se a China, que é mais populosa e tem menos chuvas, convive bem com o semi-árido, nós não conseguimos porque fomos ensinados que o problema da seca não tem solução. Temos mais água que a China, mas não há captação e armazenamento. A indústria da seca transformou o nordestino em massa de manobra dos grandes centros de desenvolvimento, que têm interesse em manter a imagem de região eternamente problemática", opina Siqueira. * Ana Karla Dubiela é jornalista da Adital destacada para cobertura da mobilização social do Programa Fome Zero.